Translate

Total de visualizações de página

Demons Cap 2



A casa branca com persianas era um lugar iluminado e calmo. Por um momento, a garota não temeu. A porta da frente estava aberta e ela entrou. A sala era branca, com enormes sofás pretos, uma enorme TV com toda a aparelhagem de som e vídeo necessário para um cinema e um piano de calda preto jazia sobre um tapete branco.
Dezenas, talvez centenas de discos, CDS e DVDS estavam empilhados em estruturas de metal retorcido. Havia ali, também, alguns quadros, mas nenhum porta-retrato.

- Boa noite, senhorita. – uma voz feminina e anasalada a assustou – Por favor, me acompanhe.

A menina não tinha se recuperado do susto. Talvez estivesse esperando a morte certa, mas era covarde demais para enfrentá-la sorrindo. E essa paralisação foi entendida pela empregada como uma dificuldade para entender a língua.

- Você entende o que eu digo? – ela perguntou confusa.

- Sim. – foi tudo o que conseguiu dizer.

Em dúvida, a mulher fez apenas um sinal para que a seguisse, e assim ela o fez. Subiram as escadas em silêncio. Se a velha senhora havia percebido que ela não trazia mala e vestia um enorme casaco que não lhe pertencia, não disse.

No corredor superior havia cinco portas e a mulher indicou a segunda da direita.

- Seu quarto - a empregada disse.

Com o coração acelerado e o pânico correndo em suas veias, a garota abriu a porta e encontrou um dos quartos mais lindos que já vira antes .Paredes eram de um tom claro de areia e havia quadros com fotos preto e branco espalhados pela parede. Os móveis brincavam entre tons claros de areia e marrom mais escuro. Parecia tudo neutro demais, sem um toque pessoal, mas, ainda assim, era lindo. E a enorme cama forrada com cobertas extremamente brancas parecia ser capaz de engolir alguém. As janelas iam até o chão e estavam abertas para o jardim. Havia livros numa estante e na mesa de cabeceira um lírio estava solitário numa jarra de cristal.

De alguma forma, aquilo tudo lhe parecia mais assustador do que ela pensava que seria. Se fosse um quarto escuro com objetos de tortura, correntes e uma cama de ferro, ela teria ficado menos apavorada. Que tipo de jogo doentio ela estava se metendo?

- Seja forte. – ela sussurrou para si mesma.

Não queria chorar mais; não mais. E, mesmo assim, sentia-se a ponto de secar seu corpo.

Estava perdida.

Olhou para a cama, mas não deitou-se, ainda que cansada demais para se aguentar em pé. Aquele seria o lugar no qual ela pagaria por ser tão inocente, não um lugar para descanso. Acomodou-se no chão, encostada na grande janela e começou a observar o jardim. Pensar em sua vida antes daquele momento não adiantaria, não a levaria de volta para seu país, sua família.

Abraçou-se fortemente e começou a mentalizar uma canção qualquer que ouvia quando era criança. Quando ainda possuía sonhos. E, sem perceber, fechou os olhos, adormecendo olhando o sono tranquilo das flores.


Quarenta minutos depois dela ter entrado na casa, vinte minutos depois de ter adormecido, Harry entrou no quarto. Tinha acompanhado todo o trajeto da garota, passo a passo e de seu quarto conseguia ouvir sua voz baixa. Esperou algum tempo para aparecer, esperando que ela se acalmasse enquanto ele ficava sóbrio de vez com um banho frio.

Ficou surpreso quando a viu dormindo quase que tranquilamente, sentada no chão. Sem saber a razão, ficara bravo com a garota. O que ela achava que ele fosse fazer? Espancá-la até a morte por dormir no lugar onde todas as pessoas dormem? Bateu-se mentalmente. Claro que ela devia pensar isso.

- Pensei que fosse desvendar o mistério sobre quem você é, mas... – Harry suspirou cansado e caminhou até o lugar que ela estava.

De perto, à luz clara do quarto, ela parecia ainda mais bonita. A pele tinha um tom diferente, assim como o formato de seu rosto. Estava claro de que ela não era da Inglaterra, o que só aumentava a sua curiosidade. Com aquele corpo e aquele rosto, Harry não tinha dúvidas de que ela seria bem leiloada naquele lugar mesmo sem ser o Lírio ou depender de um fetiche macabro qualquer.

Devagar, para não acordá-la, ele passou seus braços pelo corpo dela e a ergueu. Não era pesada, e parecia ainda menor daquela forma. Não se lembrou de Luna, pois era o oposto da ex-namorada, talvez por isso ficara tão calmo. No momento em que chegava perto da cama, pronto para deixá-la confortável, a desconhecida começou a ter um pesadelo.

Chorando e se debatendo, ela parecia implorar por piedade numa língua estrangeira. Harry logo percebeu ser português a língua que ela estava falando, mesmo sem entender. Então, sem qualquer alternativa, ele a colocou na cama de forma com que se deitasse também e a segurou fortemente.

- Calma. Calma. Está segura, agora. – ele sussurrou no ouvido dela, com sua voz profunda e calma – Não vão te fazer mal.

Ela parara de se debater, mas continuava tremendo, o que o fez apertá-la mais. Com a cabeça dela em seu peito e os cabelos tão escuros encostando-se ao seu rosto. Aos poucos, a respiração dela foi se acalmando novamente e ele se tornando cada vez mais acelerado. Depois de tanto tempo, tinha uma mulher em seus braços. Depois de tanto tempo longe da realidade, havia sido jogado novamente nela. E não tinha mais caminho de volta.

Não demorou muito e conseguiu sair da cama. Não sabia o que fazer com ela, então resolveu esperar um pouco. Pela manhã, o que não faltava muito para acontecer, iria resolver tudo. Saberia, pelo menos, o nome da brasileira. Queria um pouco de paz. E, pela primeira vez, não a queria buscando na bebida. No entanto, antes mesmo dele chegar à porta, a garota abriu os olhos.
Como um gato assustado, ela sentou-se na cama, encolhendo-se o máximo que conseguiu. Os olhos estavam abertos de susto e confusão. Ela o analisava.

- Eu conheço você. – a voz saiu forte e clara.

- Já estou no prejuízo porque eu não conheço você. – Harry disse.

- Você é daquela banda... Minha irmã gosta tanto de vocês... – ela continuou como se ele não tivesse falado nada.

O garoto ficou quieto.

- Por que você estava lá? Por que me comprou? É algum tipo de maluquice de famoso que está sentindo que a vida de riquinho é chata demais? Meu Deus, você me trouxe pra sua casa para essa brincadeira maluca? Você é doente. – o discurso continuou.

- Eu posso falar? – Harry perguntou, respirando fundo para não ser grosso.

A menina ficou quieta e se levantou da cama. Por um momento, Harry pensou se ela era sempre tão impossível de se prever. Qualquer uma choraria mais, no entanto ela surtou. Qualquer uma ficaria quieta na cama, esperando a aparente ameaça falar. Querendo ver até aonde aquilo iria, ele ficou parado.

Eles se encaravam intensamente. Harry percebeu pela primeira vez que os olhos dela eram de um castanho profundo, grandes cílios negros... Tudo nela parecia encaixado e diferente. Passo a passo, ela foi quebrando a distância. A menina chorosa que ele vira naquela boate, ainda estava ali, no fundo de seus olhos, mas estava tentando ser forte.

Quando ela parou, podiam sentir a respiração quente um do outro. Ele viu as mãos trêmulas subirem até as alças do vestido e uma lágrima rolar pelo rosto dela.

- Por favor, vamos acabar com isso logo. – ela disse, descendo a alça do lado direito.

Foi apenas neste momento que Harry percebeu o que ela estava falando. Ela já tinha a mão no ombro, quando ele colocou a sua para pará-la. O toque de suas peles parecia eletrizado por alguma corrente misteriosa e os olhos dela se arregalaram.

- Não quero você assim. – ele falou colocando a outra alça no lugar.

- Então eu deveria lutar um pouco? Parecer menos resignada? Você quer gritaria, certo? Uma desculpa para me calar. – a garota reiniciou seu discurso.

- Não preciso disso! E te calar me parece uma tarefa muito difícil para querer complicar mais ainda. - Harry retrucou.

Ela abriu a boca pra falar, mas não saiu som.

- O que? As palavras fugiram? Sério que seria tão fácil assim? Uma rejeição e pronto? – ele zombou – Eu queria ter percebido isso antes.

Rindo da sua própria ironia e da expressão da menina, Harry abriu a porta do quarto.

- Dentro do armário tem toalhas limpas e algumas blusas minhas. – ele disse – Tome um banho e depois desça para comer alguma coisa. Amanhã a gente resolve o seu problema com roupas.

- Isso é uma ordem? – a garota questionou, recuperando seu orgulho.

- Você quer mesmo que eu seja o homem malvado e mandão, não é? – ele perguntou um pouco irritado – Ótimo! Então, sim; é uma ordem. Quero você limpa lá embaixo em meia hora.
















Um comentário:

  1. Ai mds, continua logo, quero cap novo amanha haushauah "sim, e uma ordem". Serio, ta muito perfeito, essa fic esta me tocando profundamente. ,

    ResponderExcluir